Sistema operacional para PCs vai se tornar irrelevante, diz criador do Linux
Para Linus Torvalds, computação na nuvem e celulares são nova fronteira.
Finlandês durante sua 1ª visita ao Brasil.
Torvalds escreveu as primeiras linhas de código de programação do núcleo do Linux em 1991, quando estudava ciências da computação na Universidade de Helsinque. “Era apenas um hobby. Ainda é um hobby, na verdade”, contou Torvalds em entrevista exclusiva ao G1. “O fato de que também é meu trabalho é, para mim, secundário. Eu ainda desenvolvo o Linux não porque me pagam, mas porque é a coisa mais interessante que eu me imagino fazendo.”
Vinte anos depois, o hobby do jovem “hacker”, que queria apenas ver se era capaz de criar seu próprio sistema operacional, é praticamente onipresente. Ele é a base da internet: mais de 50% dos computadores que armazenam e distribuem conteúdo da web utilizam o sistema.
Até quem está longe da Internet acaba tendo, mesmo que indiretamente, contato com a obra de Linus Torvalds. Há desde elevadores a cafeteiras elétricas com controle baseado em Linux. Desde 2006, o programa está nos computadores que fazem o controle do tráfego aéreo nos Estados Unidos. As transações financeiras das bolsas de valores de Nova York, Tóquio, Chicago e Londres, por exemplo, são registradas em supercomputadores rodando Linux – das 100 máquinas mais potentes em operação no mundo, apenas dez usam sistemas diferentes.
Do outro lado do espectro de poder computacional estão os pequenos telefones celulares, que também são capazes de rodar Linux. O Android, sistema criado pelo Google, é baseado em Linux. “Nos EUA, o Android vende mais que o iPhone. Isso facilita no desenvolvimento do sistema, fica mais fácil encontrar pessoas dispostas a criar programas para este formato”, comemora Torvalds.
A telefonia celular é uma chance do Linux, enfim, ser o sistema preferido do usuário comum. Na era dos computadores pessoais, o domínio ficou, claramente, nas mãos da Microsoft. O Windows está em 91% dos PCs. “Isso não importa, em breve o sistema do computador vai se tornar irrelevante”, prevê Torvalds.
telefones baseado em Linux. (Foto: Divulgação)
Não, Torvalds não aposta na substituição dos computadores tradicionais por máquinas como o iPad da Apple. “Acho inconveniente, é grande demais para colocar no bolso, a não ser que você tenha um bolso bem grande.”
Mas para ele,a irrelevância do sistema operacional passa pelo telefone celular e pela própria internet. “Haverá o celular, onde temos presença forte, e os programas na nuvem, pela internet, acessados pelo navegador. E quem tem mais de 50% dos servidores de web? Nós.”
Pelo modelo, o Linux está registrado sob uma licença de uso especial, conhecida como GPL (sigla para GNU Public License). Escrita pelo ativista e “hacker de todos os hackers” Richard Stallman, a GPL estabelece que o programa deve ser livre para qualquer pessoa possa utilizá-lo e até alterá-lo - desde que, como contrapartida, essa alteração também seja disponibilizada publicamente sob a mesma licença. Pela ética hacker, programas registrados sob GLP são como um presente para a humanidade.
“Há pessoas do mundo inteiro que colaboram para o Linux. Dos Estados Unidos, Alemanha, México... Muita gente do Brasil, inclusive”, diz Torvalds. Da versão atual do kernel do Linux, Torvalds é autor de cerca de 2% do código. “Hoje em dia eu programo pouco, eu acabo organizando o que outras pessoas escrevem. Respondo e-mails o dia inteiro.” A ele resta o controle, a palavra final sobre cada solução de programação proposta para entrar no código do kernel.
de software livre. (Foto: Anders Brenna/CC-BY)
O Linux, acredita, já estaria pronto até para continuar evoluindo sem a ajuda de seu criador. “Eventualmente, sim, eu não estarei à frente do desenvolvimento do ‘kernel’ para sempre. Posso ficar doente ou mesmo morrer mergulhando em Fernando de Noronha”, brinca. “Mas há pelo menos 10 pessoas que estão preparadas para assumir meu trabalho a qualquer momento.”
Então por que o finlandês não para e aproveita sua fortuna estimada em US$ 20 milhões para ficar mais do que três dias no arquipélago brasileiro? “Não é que o Linux não pode sobreviver sem mim, eu é que gosto de fazer isso, não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Eu sou apaixonado pelo que faço, e acho que vou continuar assim por muitos e muitos anos.”